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Entrevista com G. Gordon Liddy à Folha de S. Paulo

 

Folha – Como o senhor vê a discussão sobre se o ‘Garganta Profunda’ era um herói ou um traidor?

Gordon Liddy – Acho que traidor seria uma palavra muito forte. O que ele fez foi desonroso, foi errado, e se alguém ler o texto [que revelou sua identidade] fica claro que foi desonroso. Foi por isso que ele não queria que seu nome viesse a público. Aparentemente, velho, fraco, com um infarto e a mente confusa, sua família o levou a isso pelo dinheiro.

Folha – Mas, passado tanto tempo, ainda é desonroso?

Liddy – Foi desonroso naquela época, é desonroso agora.

Folha – Sua vida mudou completamente desde então. E em relação a Watergate, alguma coisa mudou?

Liddy – Não é nada diferente agora do que era então. O grande problema é que o público não sabe do que Watergate se tratou na verdade. [Bob] Woodward e [Carl] Bernstein [jornalistas que fizeram as reportagens do ‘Post’] escolheram não contar sobre o que de fato era.

Folha – E o que era?

Liddy – O FBI estava investigando uma rede de prostituição, que estava vindo do Columbia Plaza, que ficava do outro lado da rua do complexo de Watergate. E o FBI achou uma ligação entre a rede de prostituição e o quartel-general do Partido Democrata.
O FBI disse que o elo era uma mulher, que era uma secretária ou assistente administrativa. Tanto que, quando o aparelho de escuta foi encontrado pelos democratas, foi achado no telefone de uma mulher que era uma secretária, assistente administrativa, não tinha nada a ver com o comando do Partido Democrata. E toda essa informação está disponível, nos arquivos, mas eles escolheram manter essa ficção de que era uma intriga política. Não era.

Folha – Então toda a história era uma mentira, e o FBI estava certo ao fazer a investigação em Watergate?

Liddy – Sim, com certeza. É o que o FBI encontrou.

Folha – E o senhor acha que esse seu ângulo da história pode ganhar novo fôlego agora?

Liddy – A mídia não vai publicar, a mídia continua mantendo esses segredos.

Folha – O senhor já comparou uma vez a mídia àquele tio indesejado, ‘uma coisa infeliz que acontece’, na sua expressão.

Liddy – Porque ela não conta a verdade às pessoas. Mantém em segredo, por exemplo, a real motivação do caso Watergate.
Folha – E agora, em relação ao presidente George W. Bush, de direita como o senhor, também mentem sobre ele?

Liddy – A imensa maioria da mídia está muito descontente com o presidente Bush, porque ela é muito à esquerda neste país. Há alguns veículos que não, como o ‘Washington Times’, que é um jornal justo, a Fox News, que é balanceada. Mas a maioria é de esquerdistas.

Folha – O senhor alguma vez pensou que Felt fosse a fonte?

Liddy – Não sabia quem era. E realmente também nem gastei muito tempo tentando descobrir.

Folha – Por quê, isso era uma questão menor?

Liddy – Sim, nós sabíamos que eles tinham várias fontes, as identidades de algumas delas, só não sabíamos quem era aquela lá. Não foi muito importante. O editor do ‘Washington Post’ naquela época, num aniversário do caso, escreveu um artigo dizendo que a contribuição do ‘Garganta Profunda’ foi muito supervalorizada, era marginal. E ele era o editor, deve saber do que estava falando. Não ia gastar meu tempo tentando descobrir quem era.

Folha – E essa revelação trouxe à tona alguma lembrança?

Liddy – Não, só que era um homem desonrado, fazendo algo desonrável.”

 

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2 Respostas to “Entrevista com G. Gordon Liddy à Folha de S. Paulo”

  1. Luiz said

    De quando foi esta entrevista?

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  2. Fábio Santos said

    Olá Luiz! Bem, a entrevista é de 05 de junho de 2005, porém, encontra-se disponível na internet apenas para assinantes da Folha Online.
    Atenciosamente,
    NF.

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